SP Escola de Teatro

Coordenador da SP, Miguel Arcanjo vence o 15º Prêmio África Brasil na categoria Jornalismo

Miguel Arcanjo Prado por Edson Lopes Jr.

O jornalista Miguel Arcanjo Prado, diretor do Blog do Arcanjo e do Prêmio Arcanjo de Cultura e coordenador de Extensão Cultural da SP Escola de Teatro, venceu o 15º Prêmio África Brasil – 2021 na categoria Jornalismo, na noite desta terça (25), em cerimônia digital na plataforma Cultura em Casa direto do Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo.

Organizada pelo Centro Cultural Africano, sob direção do rei nigeriano Kábíyèsí Ọba Adekunlé Aderonmu, a premiação condecorou oito personalidades que contribuem para a valorização das relações entre África e Brasil e dos afrodescendentes.

2ª Prêmio Arcanjo de Cultura: conheça os vencedores de 2020

Em seu discurso de agradecimento, o jornalista homenageou a memória de sua avó, Oneida Maria da Silva Oliveira, a Mãe Gigi, fundadora do primeiro afoxé de Minas Gerais, o Afoxé Ilê Odara, em Belo Horizonte, em 1980. “Eu sempre desfilei ao lado dela no Carnaval, dançando o meu ijexá, muito orgulhoso da minha herança africana, como minha avó me ensinou desde pequenino, e que eu busco seguir esse caminho de valorização da negritude no jornalismo que eu faço”, discursou.

A lista de oito personalidades premiadas com o Troféu Mama África traz os seguintes nomes: Ivan Lima, Miguel Arcanjo, Luiza Helena Trajano, Geraldo Rufino, Maria Auxiliadora Figueiredo, Adriana Vasconcellos, Isiaka Imam e João Doria. A noite teve apresentação da jornalista Cláudia Alexandre e show da cantora Paula Lima.

Miguel Arcanjo na SP Escola de Teatro. Foto: Edson Lopes Jr.

Em conversa com a comunicação da SP Escola de Teatro, o jornalista contou como se sentiu ao ser contemplado com o prêmio e descreveu como é um ato de amor a arte e à profissão trabalhar com jornalismo cultural; confira!

SP Escola de Teatro – Qual a importância de ganhar o Prêmio África Brasil?
Miguel Arcanjo – Considero o Prêmio África Brasil muito importante entre todos os que já recebi, como foi também quando ganhei o Prêmio Leda Maria Martins em 2019, na minha cidade natal, Belo Horizonte. Sobretudo por priorizar uma temática muito cara a mim, que é a integração África-Brasil e a valorização cultura afro-brasileira, fundamental na construção do Brasil. E por ser em São Paulo, este Estado que me acolheu e que me deu tanto profissionalmente. Precisamos nos orgulhar de sermos filhos da Mãe África. Não à toa, a premiação entrega o Troféu Mama África, que simboliza justamente isso. Ter sido agraciado pelo Centro Cultural Africano, que desde 1999 tem pessoas tão dedicadas à questão negra e da diáspora africana em sua direção, como o rei nigeriano Kábíyèsí Ọba Adekunlé Aderonmu e a grande produtora cultural Rosangela Ludovico, além da assessoria do Carlos Romero, é uma honra imensa e um grande privilégio. Até porque trata-se de uma premiação consolidada, que chega à 15ª edição premiando oito importantes personalidades que contribuem, cada um à sua maneira, com a cultura negra. Estar entre estas personalidades como mérito do meu trabalho me deixa lisonjeado. E aqui na SP tive a oportunidade de estreitar laços do ensino teatral africano ao brasileiro, algo pioneiro em intuições de ensino das artes cênicas em nosso país, bem como propor pontes entre os artistas negros da Diáspora com a África mãe, sempre com apoio do Ivam Cabral, nosso diretor executivo, e do Rodolfo García Vazquez, coordenador do curso de Direção, ambos aliados na construção de diversidade em nossos palcos.

SP Escola de Teatro – Como você vê ter sido premiado na categoria Jornalismo, fazendo jornalismo cultural no seu Blog do Arcanjo e no Prêmio Arcanjo de Cultura?
Miguel Arcanjo – Isso só demonstra que aprendi bem o que minha avó Oneida Maria da Silva Oliveira, a ialorixá Mãe Gigi, me ensinou desde que nasci: a valorizar as minhas raízes negras em tudo que fizesse. Vovó era amiga do Gilberto Gil, que a ajudou a idealizar o primeiro afoxé de Minas Gerais, o Afoxé Ilê Odara, onde sempre desfilei no Carnaval de Belo Horizonte ao seu lado, ao ritmo do ijexá. No meu jornalismo, não é diferente. Sempre coloquei artistas negros e negras na minha pauta, independentemente dos veículos que tivesse e, muitas vezes, enfrentando situações de resistência por parte de determinadas chefias. Passei pelos principais veículos do Brasil e sempre ou era o único negro da redação ou um dos raríssimos, e isso muitas vezes universo de mais de cem pessoas. A taxa de negros nas redações que passei nunca passou de 3%, 5%. Absurdo em um país de maioria negra. O mesmo aconteceu na UFMG, onde na minha turma Comunicação Social de 50 pessoas, apenas dois éramos negros. Isso por si só já revela muitas coisas sobre o racismo estrutural no Brasil. Por isso, sempre negociei, de forma elegante, o espaço do negro no jornalismo que faço, senão não faz nenhum sentido para mim. Não podia reproduzir um modelo de jornalismo cultural que privilegia artistas brancos sendo eu negro. É preciso dar espaço a todos de forma justa. Tenho orgulho de fazer parte de uma geração de jornalistas que desbravaram caminhos e conseguiram colocar mais negros na mídia. Porque representatividade importa. Lembro do tanto que ver a Glória Maria era importante para mim quando era criança e sonhava em ser jornalista. Ela me mostrava que por mais difícil que fosse, era possível com muita garra e competência.

SP Escola de Teatro – Vencer o Prêmio África Brasil é um estímulo para seguir fazendo jornalismo cultural, um setor tão importante da imprensa, mas cada vez mais sucateado?
Miguel Arcanjo – Com certeza! Eu sempre fiz meu jornalismo cultural independentemente de onde estivesse, da grana ou de qualquer outro fator. Faço ele por amor, paixão, porque preciso. O resto é consequência. Sei que as grades redações e os veículos mais tradicionais abandonaram completamente o jornalismo cultural, demitiram muita gente e já integrei a fila de cortes algumas vezes, porque não queriam mais jornalismo inteligente. Foi isso que me estimulou a ter o Blog do Arcanjo como um veículo independente e também a criar o Prêmio Arcanjo de Cultura. Para que pudesse realizar o jornalismo cultural que acredito sem censura, preconceitos ou amarras institucionais, como a pressão por audiência fácil e que ignora a responsabilidade do jornalismo na construção da democracia. E o jornalismo cultural é fundamental no processo democrático, já que é na cultura que uma sociedade se encontra e aprende a se respeitar em suas diferenças e a valorizá-las como algo bonito e que traz orgulho. Acredito na pluralidade, na democracia, na diversidade e detesto qualquer tipo de gueto. Isso se reflete no jornalismo que faço e que me trouxe esse Prêmio África Brasil, que já ocupa lugar de destaque na minha estante e no meu coração.

Por Luiza Camargo

Confira a cerimônia de premiação aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=qiPt-kciu8I

 

 

Sair da versão mobile