Com texto de Nanna de Castro, direção de Bruno Kott, e atuação de Chica Portugal, o espetáculo “Cartas da Prisão” teve sua estreia na capital no Sesc Pompeia após dois anos de circulação e fica em cartaz até 15 de novembro.
250 cartas são encontradas debaixo do colchão numa penitenciária de segurança máxima em São Paulo. Elas revelam a correspondência amorosa entre uma dona de casa e um psicopata condenado por esquartejar mais de 40 mulheres. No palco, a atriz Chica Portugal dá vida a cinco diferentes mulheres que se relacionam com homens presos, expondo os abusos enfrentados por mulheres que, por gerações, foram educadas a serem reféns do ideal de amor romântico.
O espetáculo conecta-se com a ascensão do gênero true crime, que tem ganhado cada vez mais força no cinema e na TV. True crime se baseia em histórias reais de crimes, muitas vezes apresentando detalhes das mentes de assassinos, psicopatas e suas vítimas, revelando aspectos sombrios da sociedade. Além de explorar o ponto de vista dos criminosos, essas produções frequentemente humanizam as vítimas, mostrando suas trajetórias e as complexidades emocionais envolvidas.
No Brasil, o true crime tem ganhado relevância com projetos como o documentário ‘Elize Matsunaga: Era uma Vez um Crime’ da Netflix, que reconta o caso de uma mulher que matou e esquartejou o marido, o longa metragem produzido pela Amazon, “Maníaco do Parque”, estrelato pelo ator Silvério Pereira. A minissérie do Streaming, Max “Praia dos ossos” que reconta o assassinato de Ângela Diniz, e também a série da Prime “Tremembé” sobre o presídio dos criminosos Roger Abdelmassih, Robinho, Alexandre Nardoni e Cristian Cravinhos, ex-namorado de Suzanne von Richthofen.
“O que as séries e filmes de true crime geralmente revelam à distância, o espetáculo nos convida a ver de perto: a complexa relação entre violência, medo, patriarcado e dependência emocional, ao mesmo tempo em que questiona os perigos de romantizar relações abusivas. Afinal, em quantas dessas histórias, as vítimas não estavam apaixonadas por seus algozes? A paixão já te fez confiar cegamente em alguém, a ponto de perder o controle?” questiona Bruno Kott, diretor do espetáculo.
A respeito de uma de suas motivações para montar o solo, a atriz Chica Portugal, que também é idealizadora da montagem, menciona: Ao longo dos anos de pesquisa, e com a circulação do espetáculo, escuto variações do público da seguinte pergunta: ‘Mas por que ela se envolve sabendo que ele é um assassino e pode fazer mal para ela? Só pode ser doida’. E geralmente eu abro debate falando sobre esse paralelo das relações – a princípio tão distintas das nossas dinâmicas – ditas, românticas, mas que acabam nos aprisionando e sendo nutridas pelas codependência e estruturas sociais. Mas afinal, quem nunca sofreu por amor. E era amor mesmo?”
A dramaturgia
O texto de Nanna de Castro rompe propositalmente o limite entre realidade e ficção ao transitar entre depoimentos verdadeiros e fictícios, entre o noticiário e o poético. Obras como “Mulheres que Amam Demais”, de Robin Norwood, e “Loucas de Amor”, de Gilmar Mendes, são referências importantes.
“Dentre as facetas das relações abusivas, sempre me intrigou as mulheres que se correspondem com criminosos sexuais confessos na prisão. É comum que assassinos recebam centenas de cartas de amor de mulheres que os conhecem apenas pelo noticiário. É como se o abuso fosse não apenas aceito, perdoado, mas acolhido. Não quero e não posso julgar estas mulheres, apenas convidar o público a partir desta situação extrema e refletir sobre nossa convivência com a violência e o desrespeito não apenas no nível pessoal, mas social”, acrescenta a dramaturga.
Histórico da peça
O solo estreou durante a pandemia, em 2020, numa versão online. Em 2022, teve sua estreia presencial no Sesc Santo André. No ano seguinte, realizou o circuito das Fábricas de Cultura, na capital paulistana; participou do evento Março-Mulher em Guaratinguetá (SP), além de realizar apresentações durante a II Semana de Reflexão e Combate à Violência contra a Mulher no Teatro Feluma e na Virada Cultural em Belo Horizonte/MG. Em março de 2024 realizou circulação via ProAC pelas regiões com maior índice de feminicídio do Estado. Recentemente realizou turnê pelas unidades do SESI_SP no Viagem Teatral.
FICHA TÉCNICA
Pesquisa e Atuação: Chica Portugal
Texto: Nanna de Castro
Direção: Bruno Kott
Cenário e Figurino: Kleber Montanheiro
Desenho de Luz: Marisa Bentivegna
Desenho de Som: Juliana R.
Caracterização: Beto França
Preparação Corporal: Bruna Magnes
Preparação Vocal: Marilene Grama
Assist. de Figurino e Cenário: Marcos Valadão
Cenotécnico: Evas Carretero
Operação de som: Leandro Goulart
Operação de luz: Giovanna Clara e Violeta Chagas
Voz Off Poema: Nany di Lima
Música: Cálice Intérprete: Paula Mirhan Composição de Chico Buarque e Gilberto Gil
Intérprete de Libras: Greicy Santos
Designer: Jane Santana
Fotos de Divulgação: Rafael Salvador e Lyvia Gamerc
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Manager Conexões Artísticas: Vanessa Lopes
Produtora Assistente: Bia Cordeiro
Direção de Produção: Fà-Móra Produções Artísticas
Realização: Sesc Pompéia
Redes Sociais: @cartasdaprisao @ameialuz.projeto
https://www.instagram.com/cartasdaprisao/
Serviço
De 05 a 15 de novembro
Terça a sexta 20h30
Excepcionalmente 15/11 (feriado) o espetáculo será às 17h30