Introdução do livro “Sem medo de se expor”, de Nydia Lícia, para a Coleção Aplauso da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (para ler a obra, na íntegra, clique aqui)
A Coleção Aplauso não podia prescindir de um volume dedicado a Raul Cortez, que faleceu em 18 de julho de 2006, deixando um vácuo muito grande nas fileiras da classe teatral. Pela sua atuação em todos os movimentos políticos e culturais, foi figura de proa. Por três vezes, atuou como presidente da Associação de Produtores de Espetáculos Teatrais (Apetesp), de 1974 a 1980. Liderou reivindicações dos atores; brigou quando era preciso brigar, montou peças difíceis, e até perigosas, em momentos delicados da política do nosso país. Principalmente, não teve medo de arriscar, e isso serviu de exemplo e de estímulo para os mais jovens, e permanecerá em sua memória.
Quando ele me pediu que eu fizesse um livro iconográfico sobre sua carreira, pôs à disposição sua vasta coleção de fotografias e, pessoalmente, colaborou na seleção daquelas que considerava mais interessantes e mais representativas de sua trajetória. Devido ao estado adiantado da doença, passamos a trocar idéias pelo telefone, tanto de sua casa, como do hospital, procurando evitar reuniões que o cansassem sobremaneira.
Por isso, achei muito importante que, neste livro, falassem dele também sua filha mais velha, Lígia Cortez; a amiga Lulu Librandi; seu diretor predileto, Antunes Filho; Eva Wilma, amiga de juventude e colega de teatro; Ítalo Rossi, o primeiro diretor e o ator que contracenou com ele em sua última novela; Ruy Cortez, seu sobrinho e companheiro de trabalho; Etty Fraser, colega de novelas na Tupi. Eu me baseei nas palestras que ele pronunciou no Teatro Escola Célia Helena, a que assisti, e nas muitas entrevistas que ele concedeu. Foram mais de 20 álbuns de recortes que consultei. Não há acontecimento artístico ou social de que ele participou que não esteja devidamente registrado.
Tudo que escrevi foi dito por ele. Procurei manter, da melhor maneira, seu estilo, seu modo de falar e, acima de tudo, sua sinceridade. Na palestra de fevereiro de 2006 – última vez que falou em público –, sua alegria foi sincera, contagiante. Fiz questão de indicar as risadas e os aplausos, para que todos pudessem acompanhar as reações da platéia. Apesar de fragilizado, ele superou o cansaço, a fraqueza, e transmitiu aos alunos o que é ser um Ator, o que significa amar o teatro e dedicar-se a ele com toda a sua alma.