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Outono, Inverno ou O que sonhamos ontem

Publicado em: 20/02/2023 |

“Quando se decompõe uma sociedade,
o que se acha como resíduo não é o indivíduo, mas sim, a família”
Victor Hugo

 

Em mais uma tarde agitada na cidade de São Paulo, partimos até o elegante Teatro Aliança Francesa, Daniela e eu, para mais um ensaio fotográfico, desses que a gente já chega com um friozinho na barriga e a vontade de realizar um grande recorte para a memória do teatro. As expectativas foram todas confirmadas, pois estávamos diante de um grande espetáculo, com um elenco afinadíssimo com Dinah Feldman, Nicole Cordery, Noemi Marinho, Riba Carlovich e Gregory Slivar, cenografia de Chris Aizner e iluminação de Wagner Pinto belíssimas contribuindo para o fluxo amalgamado da encenação. De quebra, Denise Weinberg, que participou da montagem desse espetáculo, em 2006, vivendo uma das filhas do casal – contracenando com Laura Cardoso, Sergio Britto e Emilia Reyque -; dirigiu todas as cenas do ensaio fotográfico. Um privilégio que só a fotografia de cena pode proporcionar.

O espetáculo Outono, inverno ou o que sonhamos ontem, peça com dramaturgismo de Kiko Marques e direção de Denise Weinberg, com base no texto do dramaturgo, escritor e poeta sueco Lars Norén, um dos herdeiros da violência psicológica e o sentido dos espaços fechados de Eugene O´Neill, nos apresenta as desavenças familiares, de uma mãe opressora, um marido submisso e suas filhas. O casal recebe as filhas de meia idade para um jantar. Em meio à refeição, as feridas abertas entram em discussão, com cenas de humilhação, mágoas e um acerto de contas entre componentes de uma família disfuncional que se mantém unida apenas pelas obrigações sanguíneas e pelas regras estabelecidas pelo acordo social e burguês que rege esta família. A peça resgata conflitos que acompanham a humanidade desde sua organização em sociedade, acessando o inconsciente coletivo em cada um de nós.

Na fotografia, assim como na encenação de Denise Weinberg, que amplia e reverbera o potencial narrativo com a dramaturgia visual, é preciso atravessar as camadas, procurar o negativo no positivo, a imagem latente no fundo do negativo, ir além, deixando-se atravessar. Uma foto não tem profundidade, não passa de uma superfície e sempre esconde outra, atrás dela, embaixo ou em torno dela. Não acreditar no que se vê. Despertar da consciência da imagem para a consciência do pensamento. Clique!

 

Bob Sousa é fotógrafo, mestre em Artes pela Unesp, crítico e jurado de Teatro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) e crítico e jurado de Artes Visuais do Prêmio Arcanjo de Cultura

 

Ficha técnica
Texto: Lars Norén
Tradução: Leon Rabelo
Direção: Denise Weinberg
Dramaturgismo: Kiko Marques
Elenco: Dinah Feldman, Nicole Cordery, Noemi Marinho e Riba Carlovich
Música e concepção sonora: Gregory Slivar
Desenho de luz: Wagner Pinto
Assistente de iluminação: Gabriel Greghi
Cenografia e figurino: Chris Aizner
Designer gráfico: Murilo Thaveira
Mídias sociais: Na Coxia Produções
Jovens artistas: Bina Oliveira (produção), Gabriela Cezário (iluminação), Loh Goulart (figurino) e Loro Bardot (trilha sonora e sonoplastia)
Operadora de luz: Gabriela Cezário
Cenotécnico: Alicio Silva
Fotos: Leekyung Kim
Produção-executiva: Madu Arakaki
Coordenação de projeto: Dinah Feldman e Nicole Cordery
Direção de produção: Marcela Horta