EN | ES

Memórias do Caos

Publicado em: 23/03/2023 |

O que quer que você tenha que fazer, faça agora.
As condições são sempre impossíveis.
Doris Lessing

 

Olhar uma fotografia é nos deparar com o próprio reflexo. É enxergar quem somos, uma vez que a imagem percorre o filtro da memória de tudo que vivemos e apreendemos ao longo de cada caminho. Realizar um ensaio fotográfico que dialogasse com a encenação teatral, objetos de pesquisa – fotografia e teatro – que perscruto há duas décadas me encheu de medo e orgulho. E assim fizemos. Do convite de Beatriz Gonçalves, ao primeiro encontro com a equipe, seguimos os caminhos escuros das duas caixas pretas, minhas razões de existir. Evoé!

Memórias do Caos, união da literatura, teatro, fotografia e cinema, apresenta ao espectador uma narrativa híbrida com adaptação livre do romance The Memoirs of a Survivor, da inglesa Doris Lessing, prêmio Nobel de Literatura.

A direção é de Marat Descartes e o elenco conta com Magali Biff, Tatiana Thomé, Humberto Morais, Der Gouvêa. Trazendo para a cena um ensaio fotográfico inédito de Bob Sousa, o projeto tem curadoria da jornalista e roteirista Beatriz Carolina Gonçalves, que também assina a dramaturgia do espetáculo.

A peça se passa num futuro próximo, após uma grande catástrofe. Em meio a uma sociedade degradada, convulsionada por cataclismos, vírus, refugiados e gangues de crianças dessocializadas, uma mulher e uma menina – acompanhada por seu cão – tentam sobreviver, ressignificando o passado em busca de uma nova utopia.

A ação da peça se divide em dois níveis: o tempo presente, local do colapso social, onde a ação transcorre, e o mundo em ruínas atrás da parede, tempo do inconsciente, apresentado por meio do ensaio fotográfico de Bob Sousa, que vai acompanhar a mulher no resgate de suas memórias. Narrativa dentro da narrativa principal, o ensaio fotográfico se inspira no famoso média-metragem La Jeteé, do cineasta e fotógrafo francês Chris Marker.

O espetáculo tem como centro gravitacional a crise climática, provocada pela ação humana, que está levando o planeta a um ponto de não retorno. A autora reforça a necessidade de se criar conteúdos que estimulem a discussão sobre o momento crítico que estamos vivendo. “É preciso contar histórias que estimulem a compreensão sobre o nosso lugar na Terra e a nossa capacidade de engendrar um futuro possível, diverso e plural, construído sobre as ruínas da sociedade industrial”, afirma. “Memórias do Caos pretende ser uma dessas histórias, contada com o intuito de refletir sobre o tempo de crise em que vivemos, tanto no âmbito dos afetos quanto na realidade extrema do planeta”.

Com figurinos de Fabio Namatame, cenário e desenho de luz de Marisa Bentivegna, trilha sonora de Natalia Mallo, direção de movimento de Gisele Calazans, o projeto foi contemplado com o ProAC Edital Expresso Direto 37/2021, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.

 

Bob Sousa é fotógrafo, mestre em Artes pela Unesp, crítico e jurado de Teatro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) e crítico e jurado de Artes Visuais do Prêmio Arcanjo de Cultura

 

“Uma crônica do caos” – Beatriz Carolina Gonçalves

É assim que António Guterres, secretário-geral da ONU, define o Estado Global do Clima de 2022, relatório apresentado em dezembro na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP27, no Egito. Derretimento sem precedentes das geleiras, incêndios florestais, secas prolongadas, calor extremo, inundações avassaladoras, como a que atingiu um terço do Paquistão em julho e agosto últimos, provocando o deslocamento de oito milhões de pessoas: atingimos um ponto de não retorno do aquecimento global e a previsão é a de que choques contínuos e condições climáticas extremas se sucedam com severidade crescente.

Pensar em como vamos habitar um planeta em desequilíbrio, degradado, é talvez o maior desafio que nos aguarda nas próximas décadas. Para a antropóloga norte-americana Anna Lowenhaupt Tsing, é preciso compreender como humanos e outros modos de vida podem se interconectar para viver de forma colaborativa nas ruínas deixadas pelo consumismo capitalista. É preciso inventar novos modos de habitar e compartilhar as paisagens desoladas do Antropoceno, essa época de extinção em que vivemos. É preciso contar histórias que estimulem a compreensão sobre o nosso lugar na Terra e a nossa capacidade de engendrar um futuro possível, diverso e plural.

Memórias do Caos pretende ser uma dessas histórias, contada com o intuito de refletir sobre o tempo de crise em que vivemos, tanto no âmbito dos afetos quanto na realidade extrema do planeta. Uma reflexão criativa que parte da livre apropriação do romance The Memoirs of a Survivor, da inglesa Doris Lessing, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2007, para alcançar outros discursos e percepções, como o conceito de História em Walter Benjamin e as ideias de pensadores como Abdias Nascimento, Donna Haraway e a própria Anna Tsing.

Unindo literatura, teatro, fotografia e cinema, Memórias do Caos traz para o espectador uma narrativa híbrida e especular. A peça se passa num futuro próximo, após uma grande Catástrofe. Em meio a uma sociedade degradada, convulsionada por cataclismos, vírus, refugiados e gangues de crianças dessocializadas, uma mulher e uma menina – acompanhada por seu cão – tentam sobreviver, ressignificando o passado em busca de uma nova e sempre possível utopia.

A ação da peça se divide em dois níveis: o tempo presente, local do colapso social, onde a ação transcorre, e o mundo em ruínas atrás da parede, tempo do inconsciente, apresentado por meio de um ensaio fotográfico de Bob Sousa, que vai acompanhar a mulher no resgate de suas memórias e de sua própria voz. Narrativa dentro da narrativa principal, o ensaio fotográfico se inspira no famoso média-metragem La Jetée, do cineasta e fotógrafo francês Chris Marker.

 

Ficha Técnica:

Concepção e Dramaturgia: Beatriz Carolina Gonçalves. Direção: Marat Descartes
Ensaio Fotográfico: Bob Sousa. Elenco: Magali Biff (Narradora), Tatiana Thomé (Emily), Humberto Morais (Gero), Der Gouvêa (Hugo); além de Marat Descartes Gisele Calazans (no ensaio fotográfico). Figurinos: Fabio Namatame. Cenário e Desenho de Luz: Marisa Bentivegna. Trilha Sonora: Natalia Mallo. Edição de Fotografia: Leonardo Palma
Edição de Vídeo: Marat Descartes Priscila Bernardes. Assistência de Direção/Direção de Movimento: Gisele Calazans. Assistente de Figurinos: André Von Schimonsky. Assistente Ensaio Fotográfico: Daniela Hamazaki. Cenotecnia: Edilson Quina (Urso). Iluminador Ensaio Fotográfico: Marco Aurélio Olímpio. Operador de Luz: Ricardo Oliveira. Operador de Som: Thiago Venturi. Assessoria Contábil: Hitoshi Nizhimoto. Produção Executiva: Eliane Sombrio. Direção de Produção e Assessoria de Imprensa: Texto Intermídia Assessoria de Comunicação e Produção Cultural.

 

Serviço:

Memória do Caos – Sesc Bom Retiro – SP. Alameda Nothmann, 185 – Campos Elíseos.

Local: Teatro. Temporada: De 17/3 a 23/4 de 2023 (exceto dia 7/4). Sextas e sábados, às 20h. Domingos e feriados, às 18h. Dia 14/4, às 14h e às 20h. Sessões com acessibilidade: Dia 1/4, sábado (Libras), e dia 2/4, domingo (Audiodescrição). Valores: R$12 (credencial plena), R$20 (meia entrada) e R$40 (inteira).
Duração: 70 minutos. Classificação: 16 anos. Capacidade: 291 lugares.