A fotografia, desde o seu nascimento, no final do século XIX, foi usada em diversos períodos da história como forma de controle social, indicando modelos de comportamentos e as mais diversas formas de equiparação com um “real” muitas vezes inventado pela própria imagem fotográfica. Para o filósofo checo-brasileiro Vilém Flusser, a fotografia e todo o seu aparato técnico de captura da imagem são mecanismos de controle, uma vez que “o fotógrafo manipula o aparelho, o apalpa, olha para dentro e através dele, a fim de descobrir novas potencialidades”. Nessa perspectiva, cabe ao fotógrafo romper esse sistema de controle, baseado no fetiche ao equipamento, rompendo essas convenções de uma tal “máquina da realidade”.
Dos estudos sobre o comportamento, a partir das pesquisas de Frederic Skinner, que originou trabalho da Cia. Bruta de Arte, surge a peça Máquina de dar Certo. O espetáculo, com a direção precisa de Roberto Audio, foi registrado em 2012, no Teatro Cacilda Becker, região oeste da cidade, na companhia de todo o elenco e a equipe técnica, num ensaio divertido e cheio de imagens potentes.
O psicólogo estadunidense, precursor do que se chamou de behaviorismo radical, procurou entender o comportamento humano a partir das respostas de sua interação com o ambiente, e com isso criou a máquina de ensinar, uma espécie de aparelho de perguntas e respostas que, segundo ele, facilitaria a aprendizagem de alunos nas escolas.
Em Máquina de dar Certo, os dez atores e atrizes, Ana Lúcia Felippe, Angela Ribeiro, Dagoberto Macedo, Marba Goicochea, Paulo Maeda, Ricardo Socalschi, Taiguara Chagas, Teka Romualdo, Thammy Alonso e Wanderley Salgado, trancados em um cômodo, são submetidos a uma série de estímulos sonoros e visuais para a espetacularização do condicionamento humano. Como nos experimentos de Frederic Skinner, eles são constantemente testados, tendo que executar as tarefas e coreografias determinadas por um comando cuja identidade é desconhecida.
Máquina de dar Certo representa um fragmento na vida desses personagens, que se submetem a um invento “espetacular” com o intuito de se adequarem, de serem reconhecidos e aceitos e consequentemente de obterem êxito de alguma maneira, assim como a tempestade de imagens postadas a cada segundo nas redes sociais tenta condicionar novos e absurdos comportamentos.