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A Hora e Vez, por Bob Sousa

Publicado em: 20/10/2020 |

Tudo, aliás, é a ponta de um mistério, inclusive os fatos. Ou a ausência deles.
Duvida? Quando nada acontece há um milagre que não estamos vendo.
Guimarães Rosa

 

Foi numa tarde de sábado, no Espaço Parlapatões, em 2014, que encontrei a atriz Fani Feldman e o ator Rui Ricardo Diaz, da Cia. do Sopro, para o ensaio fotográfico do espetáculo A Hora e Vez, que nasceu a partir dos estudos sobre o trabalho de intérprete dentro do Laboratório Dramático do Ator, de Antonio Januzelli.

A montagem, de estrutura épica, tem direção de Antonio Januzelli e o ator Rui Ricardo em cena, interpretando diversos papéis, convertendo a imaterialidade da narração em corporeidade física, que passa pela trajetória da personagem rosiana, também conhecido como Nhô Augusto, um homem que briga e maltrata todos ao seu redor. Considerado como um dos grandes escritores brasileiros, Guimarães Rosa traz em sua obra elementos típicos do sertão, da religiosidade, do poder e do dualismo entre o bem e o mal. Na peça, é apresentada a transformação pela qual a personagem passa desde o começo, no Arraial do Murici, depois em sua nova vida no povoado do Tombador, até o fim da história, quando chega ao Arraial do Rala Coco. Por todo o caminho, Nhô Augusto transita entre atitudes consideradas perversas e momentos de redenção.

As imagens, produzidas pela câmera fotográfica, vão presentificando a narração de cada uma das personagens brilhantemente construídas pelo ator, e a dramaticidade preenche a tela – do teatro e da fotografia – com a memória do sertão brasileiro que Guimarães Rosa nos apresentou.