Se eu pudesse contar a história em palavras, não precisaria carregar uma câmera.
(Lewis Hine)
O texto que abre esta coluna no portal da SP Escola de Teatro, instituição que vi nascer e que abrigou minha primeira grande exposição fotográfica sobre a cena teatral paulistana (2009), trata brevemente sobre as possibilidades da fotografia como elemento de “tradução” de um espetáculo teatral.
O teatro encontra-se entre as mais efêmeras das artes, e seu registro documental, pelo menos até a invenção do cinema e do vídeo, sempre dependeu forçosamente da memória, individual ou coletiva – que pode ser enganosa, mas se faz presente na tradição oral –, dos programas informativos sobre os espetáculos e das críticas veiculadas na imprensa, além, é claro, do instantâneo fotográfico. A fotografia, primeira forma conhecida de ilustração mecânica do “real”, desde sua invenção, em meados do século XIX, tem prestado bons serviços ao teatro, em frutífero intercâmbio artístico. Desde os primeiros negativos produzidos por Fredi Kleemann (1927 – 1974), ator e fotógrafo que retratou grande parte da vasta produção do TBC – Teatro Brasileiro de Comédia, até os milhões de pixels gerados pelas modernas câmeras digitais.
Este artigo apresenta a fotografia como suporte documental e narrativo de uma obra teatral – e não como simples legenda para um texto crítico –, valendo-se da potência das imagens e de suas possibilidades de interlocução com o espectador. Sobre esse “modo de ver”, John Berger (1972) apresenta “[…] a nossa maneira de apreender as imagens, quando não acompanhada da palavra escrita, da letra impressa, é diferente. Há, no entanto, uma leitura específica, cujo resultado é simplesmente a obtenção de informação direta”.
Seria possível uma única imagem, ou uma sequência delas, propor alguma traduzibilidade de um espetáculo teatral? Sobre a tradução, Walter Benjamim (2011) revela: “E, no entanto, a tradução que pretendesse comunicar algo não poderia comunicar nada que não fosse comunicação, portanto, algo inessencial. […] não será isto aquilo que se reconhece em geral como o inaferrável, o misterioso, o ‘poético’? Aquilo que o tradutor só pode restituir ao tornar-se, ele mesmo, um poeta?”
O poder de síntese da fotografia e sua possibilidade de revelar diversas experiências num só fragmento, como a cultura de quem está fotografando, sua ideologia e o período histórico em que vive podem traduzir um espetáculo pelo olhar poético do fotógrafo-narrador. Cabe ao artista das lentes estabelecer uma relação dialógica entre a obra cênica e a linguagem fotográfica, aliando, ao seu “modo de ver”, técnica, sensibilidade e respeito à montagem.
As imagens aqui apresentadas são fruto da exposição “Revelando a Caixa Preta”, projeto fotográfico realizado no ano de 2013, no Espaço Beta do Sesc Consolação (SP), local alternativo que recebe em sua programação desde grupos iniciantes – por meio do projeto Primeiro Sinal – até artistas e companhias já consagradas na cena teatral brasileira. Portanto, pretende-se que as imagens que compõem a referida exposição possam servir como base para apreendermos novos olhares e possibilidades de leitura desses recortes instantâneos da cena.
Deixo aqui meu mais profundo agradecimento à SP Escola de Teatro e ao seu diretor Ivam Cabral, um dos maiores incentivadores da minha carreira, e a toda equipe de comunicação.
Vamos em frente!