[…] Se, em sua motivação original,
estas fotografias procuram expressar a memória fragmentada do artista,
elas igualmente pretendem nos abrir vias de acesso
provisórias à nossa própria vida interior.
[…] Maurício Lissovsky
O objeto que a fotografia pode representar é tão variável, que a definição de um gênero fotográfico se torna complexa. Definir a fotografia de teatro somente pelo fato de as imagens serem capturadas num ambiente teatral não a vincula a um gênero: fotografia de teatro. Basta imaginar que fotografias capturadas num ambiente teatral podem representar aspectos da arquitetura (cenário, estrutura), moda (figurino, maquiagem, cabelo) ou das relações humanas e sociais (atores e atrizes). Essas fotos podem estar inteiramente desvinculadas do ambiente teatral e ainda (re)criarem novas realidades – voltadas ou não a esse ambiente.
Apresento esse argumento inicial justamente para desconstruí-lo totalmente a partir da obra da fotógrafa catarinense Priscila Prade. No livro “Evoé – fotografias de teatro”, a artista “carrega” o universo teatral para dentro das suas imagens; sejam capturadas no espaço da encenação, nos ensaios e até nos retratos produzidos para a divulgação dos espetáculos ao longo de 30 anos de carreira. O teatro está dentro da fotógrafa, que acompanha espetáculos com a família desde os 12 anos de idade; e essa carga afetiva traduz e fortalece a essência de sua fotografia. A obra nos mostra que, para fotografar o teatro, é preciso tê-lo dentro de si.
A fotografia dos “teatros de Priscila Prade”, traduzida em papel, aproxima-se e distancia-se da encenação teatral e traz à tona seus códigos para o leitor da imagem fotográfica. Desse modo, a fotografia constitui um sentido possível e não o sentido definido/definitivo do objeto teatral, já que o olhar da artista revela muito mais do que as cenas imaginadas pelo encenador. Se, o que o fotógrafo registra é aquilo que lhe “fere” – usando um termo apresentado por Roland Barthes, em “A Câmera clara” – o olhar de Prade carrega a literatura, a pintura e a música que embalaram sua formação pessoal e artística no seio familiar.
Segundo Patrice Pavis, no “Dicionário de teatro”, a função utilitária da fotografia de teatro é gerar uma memória para a posteridade. Essa função está contida em cada um dos cenários, figurinos, rostos e gestos congelados pelo obturador afetuoso de Priscila Prade. Evoé!!!
Em tempo: a obra, produzida durante a pandemia do Coronavírus, terá toda a sua arrecadação revertida aos profissionais do setor teatral que estão sem trabalho durante o período e conta com o apoio da LeoGraf e da Suzano.
Para adquirir um exemplar: http://lkt.bio/evoelivro/