“A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes.
O que vemos não é o que vemos, senão o que somos.”
Fernando Pessoa
O MIRADA – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas está de volta e reúne artistas e público presencialmente entre 9 e 18 de setembro de 2022, sua sexta edição em 12 anos. Com 36 obras de 13 países, apresenta 9 peças portuguesas, pais homenageado nesta edição, que abordam criticamente sobre o processo histórico que exauriu povos originários e deflagrou a escravidão africana no Brasil colônia.
Em Viagem a Portugal, última paragem ou o que nós andámos para aqui chegar a narrativa de viagem, gênero literário secular, transita entre o relato factual e a ficção, conforme o contexto histórico, o manejo da linguagem e o objetivo de quem escreve. Com três intérpretes mais encarregados diretamente da narrativa, uma quarta na manipulação de documentos e vídeo em tempo real, assim como um quinto como compositor que pulsa a trilha ao vivo, o trabalho faz do arquivo um dispositivo cênico ao qual confere materialidade poética.
“Afinal, que viajar é este?”, pergunta José Saramago (1922-2010) no livro cujo título o “Viagem a Portugal” empresta nome ao espetáculo do coletivo. Foi uma das motivações para que seus integrantes olhassem pelo retrovisor o caminho que os trouxe até ali , bem como a seus familiares, mostrando, consequentemente, a história do povo português. Também nortearam a pesquisa o conto “A Viagem”, da poeta Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), e a circulação pelo interior de Portugal durante meses no ano da estreia, 2019.
Foto, texto, música, correspondência e toda sorte de fontes rememoram dores e lutas que falam de direitos, de injustiças e de convicções humanistas em períodos como os da ditadura (1926-1974) e da Revolução dos Cravos (1974-1975).
Bob Sousa é fotógrafo, pesquisador e mestre em artes pela Unesp. É crítico de artes visuais/APCA e Prêmio Arcanjo de Cultura
Ficha técnica
Texto e direção Joana Craveiro
Cocriação e interpretação Estêvão Antunes, Simon Frankel, Tânia Guerreiro e Mafalda Pereira
Vídeo e imagens (originais, reproduções, slides) João Paulo Serafim
Cenografia Carla Martinez
Figurinos Tânia Guerreiro
Música (composição e interpretação) Francisco Madureira
Assistência, interpretação, manipulação de documentos, vídeo em tempo real Mafalda Pereira
Desenho de luz Cristóvão Cunha
Coordenação técnica Leocádia Silva
Operação de luz Rodrigo Lourenço
Técnico de vídeo João Pedro Leitão
Direção de produção Alaíde Costa
Produção no Brasil Corpo Rastreado
Apoio Fundação Calouste Gulbenkian, FX Road Lights
Coprodução Teatro do Vestido e Teatro Viriato