Eduardo Okamoto, no espetáculo “Oe”, inspirado na obra do escritor japonês Kenzaburo Oe (Foto: Fernando Stankuns)
O ator Eduardo Okamoto apresenta, a partir de segunda-feira (08), na SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, seu espetáculo solo “Oe”, inspirado na obra “Jovens de um novo tempo, despertai!”, do escritor japonês Kenzaburo Oe, Prêmio Nobel de Literatura de 1994. Com direção de Marcio Aurelio e dramaturgia de Cássio Pires, a montagem não pretende fazer apenas uma dramatização do livro, mas sim experenciá-la.
Encontra na obra o impulso para a abertura de imaginários. A realização de um projeto urgente e impossível – um manual de definições do mundo, da vida e da morte – não é lido como o empreendimento pedagógico de um pai. Anuncia o processo em que cada um confere sentido às vivências. A tarefa enciclopédica de uma única pessoa esconde um enigma aberto a todos: o pai ensina o filho, mas é também um outro filho clamando explicações a um pai perdido.
Assim, a narrativa parte de circunstâncias singulares (um indivíduo e seu filho deficiente), mas não se encerra em particularidades. A expressão da singularidade de um ser humano relaciona-se a enfrentamentos coletivos. Ou, dizendo de um outro modo, a delimitação da vida de um homem também esbarra nos limites do humano. Ou ainda: uma imagem do mundo revela também os nossos limites para sonhá-lo de outras maneiras.
A enfermidade do filho é recorrente na obra de Kenzaburo Oe. O filho viveu até os seis anos de idade sem desenvolver a capacidade da fala. Demonstrando grande sensibilidade auditiva e aprendendo a falar ao reconhecer o som dos pássaros, o menino aprendeu a tocar piano e, hoje, é compositor e pianista respeitado no Japão e fora dele.
No espetáculo, porém, a obra do escritor nipônico não é lida meramente como uma narrativa de autossuperação. Primeiro, porque seus criadores reconhecem que não há limites claros entre a singularidade de um único homem e a universalidade do conjunto plural dos homens. Assim, a partir de uma narrativa pessoal, o espetáculo propõe um chamado para novas formas de cidadania, baseadas na responsabilidade intransferível de cada ser sobre suas ações: “[há uma] conexão existente entre a violência em escala mundial, representada por artefatos nucleares, e a violência existente no interior de um único ser humano”, escreve Kenzaburo Oe.
Para dar conta desta ampla leitura da obra do escritor, a dramaturgia do espetáculo não dramatiza passagens da obra do escritor japonês. Assim, mais que encontrar situações dramáticas que traduzam a literatura, o espetáculo apresenta uma espécie de leitura pública da obra. Trata-se, assim, de tomar a obra literária como estímulo para uma nova criação, encontrando na tridimensionalidade do palco teatral a recriação de uma potência que, na escrita literária, é bidimensional. Assim, o espetáculo usa pouquíssimos recursos materiais, concentrando a sua expressividade na tríade: espaço, ator, palavra. Num espaço praticamente vazio, o diretor encontra substrato para a abertura de imaginários do espectador. Neste espaço, o ator experiência e partilha narrativas físicas, vocais e literárias. Os criadores, através destes procedimentos, procuram encontrar suporte para uma expressão precisa (tal qual a partitura musical) e aberta (como se vê na literatura, impulso para a imaginação).
Eduardo Okamoto
É ator, Bacharel em Artes Cênicas, Mestre e Doutor em Artes pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde atualmente é docente. Apresentou espetáculos e atividades formativas em diversos estados brasileiros e no exterior: Espanha, Suíça, Alemanha, Marrocos, Kosovo, Escócia e Polônia. É autor do livro “Hora de nossa hora: o menino de rua e o brinquedo circense” (Editora Hucitec, 2007).
Em 2009, foi indicado ao Prêmio Shell na categoria de Melhor Ator sua atuação em “Eldorado” (direção de Marcelo Lazzaratto e dramaturgia de Santiago Serrano). Em
2012, foi indicado novamente ao Shell de Melhor Ator por sua atuação no espetáculo “Recusa”, da Cia. Teatro Balagan, com direção de Maria Thais e dramaturgia de Luis
Alberto de Abreu. No mesmo ano, recebeu o Prêmio APCA de Melhor Ator por sua atuação neste espetáculo que obteve mais de 11 indicações para importantes premiações no panorama nacional das Artes Cênicas.
Como parte do processo criativo do espetáculo “Oe”, Eduardo Okamoto realizou, em fevereiro de 2014, um estágio no Kazuo Ohno Dance Studio, no Japão.
Serviço:
Espetáculo “Oe”, com Eduardo Okamoto
Onde: SP Escola de Teatro – Praça Roosevelt, 210 – Centro – São Paulo/SP
Tel.: 11 3775-8600
Quando: de 8 a 24 de junho
Horário: Segundas, terças e quartas, às 20h30
Ingresso: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia)