“O dia em que raptaram o papa”, comédia de João Bethencourt (1924-2006), é o texto brasileiro mais montado fora do País. Palcos de mais de 40 países já receberam a peça – que já é considerada por alguns como um clássico do humor – desde sua criação, nos anos 1970.
Na trama, o Papa Alberto IV vai a Nova Iorque e é sequestrado por um taxista judeu que o tranca na despensa de sua casa, onde mora com a mulher e os filhos. A partir daí, arma-se uma confusão enorme, de níveis internacionais, envolvendo chefes de Estado de todo o mundo.
“É, das minhas peças, a mais bem-sucedida. E, talvez, das mais bem estruturadas. O Papa… nasceu de uma tacada. Eu estava escrevendo outra coisa, de repente, veio a ideia; eu desenvolvi; e, no fim da tarde, estava pronta. Poucas vezes uma peça nasce assim. Geralmente, levo muito tempo elaborando, reescrevendo, buscando um final ideal”, comentou o autor em sua biografia, “O locatário da comédia” (2007), de Rodrigo Murat, para a Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial.
Eva Todor, Afonso Stuart, Paulo Nolasco, Vânia Mello, João Marcos Fuentes e André Villon em “O dia em que raptaram o papa”
Segundo Bethencourt, o seu “muso inspirador” foi o Papa João XXIII. Sua primeira encenação aconteceu em 1972, ainda no Brasil, sob direção do próprio autor. No elenco da montagem, estavam Eva Todor, André Villon, Afonso Stuart, Dionísio Azevedo, Luis Carlos Arutim e Etty Fraser.
O artista conta que a peça fez muito sucesso e despertou o interesse do jornalista húngaro André Fodor. “Ele viu a peça, gostou, e mandou para um amigo dele, que era diretor de um teatro de Zurique, o Schausplelhaus – um dos mais importantes da Europa – onde estrearam todos os Brechts do exílio. A emoção que tive de assistir à minha peça, em alemão, neste grande e importante teatro causou-se uma breve, mas dolorosa, crise renal”, relembrou.
Quem interpretou o Papa nesta encenação foi ninguém menos que Heinrich Gretler, “o maior ator de língua alemã da Suíça”, de acordo com Bethencourt. “Foi encenada, praticamente, em todos os países da Europa nos últimos 30 anos. Na Espanha, o ator que fez o Papa ganhou o prêmio de melhor ator do ano. Na Hungria, fui homenageado. Na Bélgica, foi vista pela Rainha Fabíola. Na Itália, o jornal do Vaticano – L’Osservatore Romano – publicou um artigo elogioso.”
O texto também passou por Israel, Canadá, Estados Unidos, França, Iugoslávia, Uruguai, Argentina, Venezuela, Peru, México, entre outros. Além disso, não raramente, é remontada na Alemanha e na Áustria.
Surpreendentemente, esta não é a única peça do dramaturgo a fazer sucesso lá fora. Além do reconhecimento em terras brasileiras, “Bonifácio bilhões”, “Como matar um playboy”, “O dia em que Alfredo virou a mão” e “A sina do barão” também cativaram o público de vários outros países.
Texto: Felipe Del