Ao iniciar novos períodos de estudo, é normal planejar e criar expectativas para o decorrer do semestre. Na SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco não é diferente. Aprendizes e corpo docente de Dramaturgia, por exemplo, não fogem à regra e imaginam como serão escritos os Módulos Vermelho (matutino) e Amarelo (vespertino).
Como os dois apresentam propostas totalmente distintas, as ações que os caracterizam também fluem por caminhos diferentes. Marici Salomão, coordenadora do curso, destaca três pontos importantes do Módulo Vermelho.
“No Vermelho, a iniciativa em propor projetos parte dos próprios aprendizes e a presença de convidados pontuais surge a partir da demanda de cada proposta. A maneira como todos nós, de coordenadores a formadores, estamos atentos aos diferentes tipos de projetos, vai oferecer o melhor respaldo possível”, afirma.
Para Alessandro Toller, formador de Dramaturgia, um dos principais desafios a ser superado pelos aprendizes deste Módulo diz respeito à maneira de se posicionar frente ao olhar dos colegas. “Desta vez, é essencial que eles consigam lidar com seus parceiros criativos, não partindo de um denominador que seria formal, como no semestre passado, ou material, que os coloque numa mesma direção, pois elas serão realmente diferenciadas.”
Aprendizes de Dramaturgia do Módulo Vermelho
Constituir-se como um artista propositivo e ter dimensão do projeto como um todo são outras das capacidades exigidas, segundo Toller. “Buscar clareza e compreensão artística além de abrir canais que tenham a ver com aquele objeto de estudo especificado, estabelecendo uma nova parceria com o que estão fazendo há um ano e meio, é um ótimo treinamento.”
O aprendiz José Ricardo pensa de maneira semelhante. “Agora, a Escola nos joga para o encontro com artistas dotados de uma visão de arte, estética e de mundo diferentes da nossa. Nos outros semestres, isso também existiu, mas nesse é ainda mais forte. É um confronto de ideias, um embate sem vencedor.”
Dramaturgia no Módulo Amarelo
Já na turma vespertina, os estudos da SP Escola de Teatro serão conduzidos pela Narratividade, tendo o livro “Viva o Povo Brasileiro”, de João Ubaldo Ribeiro, como referência. “O conceito que irá nortear esse período é a Narratividade, mas a matéria concreta é o livro. Transpor a obra literária para o teatro da melhor maneira possível é o maior desafio”, comenta Marici Salomão.
Um argumento citado tanto por Marici como por Toller, enfatiza o que parece ser a tônica desse Módulo. “Esse processo vai afinar o olhar crítico para sua própria realidade e em especial para a transformação disso em proposta criativa, artística. Seja por meio de identificações ou alteridades, não tenho dúvida que o Módulo vai aguçar o olhar e a maneira como eles se relacionam com o mundo”, diz o formador.
A coordenadora concorda e vai além. Para ela, é fundamental que os aprendizes entendam que o épico é composto por elementos mais potentes que apenas a estética. “Ele tem a função de levar o público a raciocinar. É uma tomada de decisão do artista frente à vida.”
Dramaturgismo é uma palavra que, com certeza, ganhará grande repercussão nas aulas ao longo do semestre. Segundo Marici, o dramaturgista “deve ter tanto um olhar geral quanto pessoal sobre as demandas da sala de ensaio. É da sua alçada fazer uma ancoragem da pesquisa que contextualiza a obra de João Ubaldo para todos os aprendizes.”
Apesar de se tratar de um conceito bastante complexo e que, ocasionalmente, até se dispersa em sua definição – principalmente no Brasil, que não tem uma tradição muito forte nessa área –, a coordenadora define esse profissional da seguinte maneira: “É um grande provocador, um nutridor de conhecimento. Se for talhado para ser um conhecedor da vida como o enólogo é do vinho, pode ser até mais importante que o dramaturgo no País”.
A aprendiz Regiane Lopes concorda e comenta sobre a diferença entre esse Módulo e os anteriores: “Acredito que agora trabalhamos em um campo mais amplo, o livro oferece mais opções e, por isso, temos maior liberdade. Isso pode ser mais difícil e complexo. No início ficamos meio perdidos, mas eu, pessoalmente, gosto muito do Épico. Vai ser muito interessante”, finaliza.
Texto: Felipe Del