O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência.
Nem uma culpa como nos fez crer a religião.
O corpo é uma festa.
Eduardo Galeano
Uma obra teatral pode desnudar nossas verdades? E uma fotografia?
Na fotografia é preciso atravessar as camadas, procurar o negativo no positivo, a imagem latente no fundo do negativo, ir além, através. Uma foto não tem profundidade, não passa de uma superfície e sempre esconde outra, atrás dela, embaixo ou em torno dela. Não acreditar no que se vê. Despertar da consciência da imagem para à consciência do pensamento. É sempre muito intrigante ouvir opiniões sobre as minhas fotografias. Uma mesma imagem pode suscitar diversas opiniões, e muitas delas podem ter nunca atravessado o meu ato fotográfico. Nesses casos, sempre digo que é preciso invadir o “o corpo nu da fotografia”. Mas não é tudo que eu posso controlar!
As imagens fotográficas são representações da realidade orientadas sempre por um código e, portanto, carregadas de ideologias. O corpo na arte é sempre um código, uma representação que revela narrativas e constroi significação.
Assistir e fotografar os doze atuantes do Coletivo Impermanente, dirigidos por Marcelo Varzea, que se revezam nesta performance onde seus corpos nus, em relatos confessionais postos em mini-solos de autoficção, revelam histórias marcadas em suas peles e existências nos posiciona em relação ao individuo, a complexidade de estarmos no mundo e a potência dos discursos muitas vezes soterrados por debaixo das “peles” que nos são impostas.
Homofobia, assédio sexual, etarismo, gordofobia, machismo, disforia do espelho, pretitude, racismo, compulsão, hipervalorização do erotismo, pedofilia, transfobia, maternidade, infertilidade, educação sexual, entre outros, são abordados olho no olho, respirando junto, num ato íntimo e libertador que pode nos conduzir, no tabuleiro da sociedade contemporânea, a um jogo mais razoável e menos perverso.
Cada artista tem um piso de 2m x 2m para performar, dispostos dentro de um grande tabuleiro. A duração de cada solo é de quatro minutos. Ao fim desse tempo, o público escolhe em qual nicho assistirá à próxima rodada em sucessivas apresentações durante uma hora. Outros corpos nus se movem perifericamente e, desta forma, é possível fazer o revezamento no fim de cada ciclo, alterando a perspectiva. Simultaneamente, as falas se sobrepõem como numa radiografia social.
Porque o teatro e a fotografia são efêmeros, instáveis e inconstantes. Impermanentes!
Bob Sousa é fotógrafo, mestre em Artes pela Unesp, crítico e jurado de Teatro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) e crítico e jurado de Artes Visuais do Prêmio Arcanjo de Cultura
Ficha técnica:
Criação, dramaturgia e direção: Marcelo Varzea
Atuação e textos: Coletivo Impermanente
Elenco: Agmar Beirigo, Ana Bahia, André Torquato, Bruno Rods, Camila Castro, Conrado Costa, Dani D’eon, Daniel Tonsig, Eduardo Godoy, Ellen Regina, Flavio Pacato, John Seabra, Lana Rhodes, Letícia Alves, Pamella Machado, Renan Rezende, Stephanie Lourenço, Talita Tilieri, Thiene Okumura, Veronica Nobili e Vini Hideki
Direção de movimento: Erica Rodrigues
Iluminação: Vini Hideki
Músicas originais: Flavio Pacato e Marcelo Varzea
Direção musical: Flavio Pacato
Produção Coletivo Impermanente: Camila Castro
Produção: Corpo Rastreado | Leo Devitto
SERVIÇO
O que: “O Que Meu Corpo Nu Te Conta?”, no Sesc Pompeia
Quando: 22/06 a 02/07, quinta a sábado às 20h, domingo 17h
Onde: Rua Clélia, 93 – Água Branca
Valores: R$ 30,00 inteira, R$ 15,00 meia, R$ 10,00 credencial plena
Ingressos: Online no Aplicativo Credencial Sesc SP ou em centralrelacionamento.sescsp.org.br ou nas bilheterias das unidades do Sesc SP
Duração: 60 min
Classificação indicativa: 18 anos