Luís Alberto de Abreu (Foto: Divulgação)
“É um privilégio estar aqui ao lado do mestre…”. Já ouvi esta frase algumas vezes, por ocasiões de debates sobre dramaturgia, em que Luís Alberto de Abreu dividia a mesa com algum de seus ex-aprendizes.
Há alguns anos, a jornalista Beth Néspoli escreveu uma matéria para O Estado de S.Paulo, cujo objetivo era homenagear Abreu na data de seu aniversário. Colheu depoimentos de alguns artistas de teatro que trabalharam com ele. Minha frase foi algo como: “Abreu é um sábio, tem essa função social e transmite seu conhecimento a outros com a disponibilidade de uma criança que empresta seu brinquedo mais valioso”.
O dramaturgo e pesquisador Aimar Labaki costuma referir-se a uma geração de dramaturgos (Mário Viana, Hugo Possolo, Marici Salomão, Nelson Baskerville, Adélia Nicolete, entre outros) como “os filhos do Abreu”. Trata-se de um belo escalão de autores que, em meados da década de 1990, uniu-se no Núcleo dos Dez” grupo de estudos coordenado por Abreu.
Abreu esteve à frente do Núcleo de Dramaturgia da Escola Livre de Teatro de Santo André, em 1990, e, depois, de 1999 a 2006. Foi, inclusive, um dos mentores do projeto.
Quem o conhece enaltece sua qualidade como criador e pensador, sua sabedoria de vida, de arte, e sua capacidade, prazer e – podemos imaginar – quase missão em ensinar.
Abreu é extremamente dedicado e não se contenta em deitar-se tranquilo sobre o platô do seu conhecimento. Ele mesmo diz: um dramaturgo sempre se prova no próximo texto que ainda há de escrever. Se Shakespeare entrasse pela minha porta, eu perguntaria: “Quem é você? Seus textos eu os conheço e os amo, mas você só será um dramaturgo se escrever um texto novo”.
É com essa paz de espírito criativo que gosto de me lembrar do Abreu. Para mim, ouvi-lo de tempos e tempos é pura oxigenação do espírito. Sua tranquilidade em afirmar que o processo criativo é um processo de vida conforta e mantém em fornalha quente a expectativa de nos lançarmos ainda mais à criação.
Em mais um de seus pseudo-simples pensamentos, costuma dizer que tem hábito de escrever bastante, com o intuito de transmutar a quantidade em qualidade. Não sei se Abreu tem noção da quantidade de dramaturgos em início, meio ou auge da carreira que ajudou a formar. Entretanto, assimilando sua máxima, a qualidade artística e humana que jorra ativamente ao longo de sua carreira, não deixa dúvida de que a “escola” Luís Alberto de Abreu é um legado que pertence a muitos.
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