“Ser humano entregue inteiramente à paixão ao teatro”. Foi assim que José Celso Martinez Corrêa – Zé Celso – definiu-se em recente texto, divulgado na página do Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona. Penso que não poderia haver definição melhor. Zé Celso é a personificação da entrega, da paixão, do amor ao teatro, ou melhor, ao TE-ATO.
Aos 75 anos de idade, e há 54 anos como diretor teatral do Teat(r)o Oficina, Zé Celso é, sem dúvida, um dos maiores nomes do teatro brasileiro, uma vida dedicada à arte, uma vida dedicada à essa paixão que é o teatro. Seu desejo é o de criar, de produzir novos caminhos, de sair do lugar-comum, de ousar, de buscar a beleza, buscar a poesia, e, porque não, de transformar vidas.
Para Zé Celso, não há separação entre vida e arte, é tudo uma coisa só. Por meio do amor, ele nos demonstra algo extremamente valioso: a arte do teatro não é diferente da arte da vida. Vida de forma intensa e latente, cheia de “felicidade guerreira” e sempre apaixonada.
É impossível afirmar que, ao sairmos de qualquer espetáculo do Teat(r)o Oficina, somos a mesma pessoa. Trata-se de experiência única e singular, não se repete nunca. Zé Celso tem o poder de trazer ao espectador, no momento da encenação, uma espécie de segredo revelador de nós mesmos. Uma oportunidade para renascermos torna-se possível naquele instante. Poderia haver presente mais valioso?
Desde 2004, estudo sobre o Teat(r)o Oficina e sobre esse homem, que considero o maior nome da cena brasileira. No meio acadêmico, especialmente no início dos meus estudos, fui alertada, inúmeras vezes, para que não tivesse olhos tão “apaixonados” pela obra de Zé Celso. Seria possível desvincular a paixão do teatro produzido por Zé Celso? Não! A paixão tornou-se combustível impulsionador para os meus trabalhos, para a minha vida.
O Teat(r)o Oficina, a exemplo do teatro grego que ficava próximo aos hospitais para ajudar na recuperação dos pacientes, ajuda a curar e a descobrir a vida como vontade de potência. Sou exemplo e testemunha disso.
Uma vez que estamos na Rua Jaceguai, 520, em um teatro de arquitetura única e tão especial, sabemos que não há espaço para a passividade e para o conforto. Tendo como lema fundamental “a transformação permanente do tabu em totem”, Zé Celso é essa figura que, por muitos, é chamado de polêmico. Não gosto dessa definição. Essa forma “polêmica” representa, na verdade, a coragem de nos oferecer, em cada um de seus trabalhos, uma experiência de renovação e de potência.
Zé Celso nos mostra que a experiência sagrada do teatro, feita da comunhão com os outros, só é possível através do amor. E, assim, o resultado é inevitável: ele tem transformado seu público em amantes apaixonados de sua obra e dele próprio. Evoé!
Carla Aurora é pesquisadora.
Veja o verbete de José Celso Martinez Corrêa na Teatropédia.
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