SP Escola de Teatro

Beatriz Segall por Nilu Lebert

*Apresentação do livro “Beatriz Segall – Além das Aparências”, da Coleção Aplauso da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, lançado em abril de 2006 (para ler a obra, na íntegra, clique aqui)

Todo mundo sabe, todo mundo vê o magnetismo e o talento de Beatriz nos palcos e nas telas. Todos reconhecem sua classe, seu refinamento. E eu, que tive o privilégio de ir com ela bem além das aparências, agora posso revelar algo a mais sobre uma das mais importantes figuras do nosso cenário artístico. Um privilégio, sem dúvida.
 
Conheço Beatriz há décadas, e tenho o orgulho de dizer que somos amigas. Por isso, quando Rubens Ewald Filho me convidou para escrever a biografia dela, fui tomada por uma alegria quase infantil, parecida com a de uma criança que recebe o presente desejado antes do Natal. 
 
Finalmente agora, depois de mais de uma dúzia de (prazerosos) encontros para falarmos do livro, posso ir mais fundo e mostrar que Dame Beatriz é uma excelente cozinheira e dona de casa, faz uma carne assada inesquecível e tem um humor invejável. Posso contar também da maravilha que é o jardim de sua casa em Campos do Jordão, onde Beatriz caminha como uma menina descobrindo o paraíso, vivendo com cada planta, com cada árvore e com cada flor uma intimidade conquistada, traduzida em paz. 
 
Aqui e agora posso falar, inclusive, da amiga chegada em boas travessuras, como sair por aí disfarçada para fazer compras. O engraçado é que Beatriz se acredita mesmo irreconhecível, só porque amarra um lenço na cabeça e usa óculos escuros… 
 
E já que tive esse espaço para revelações, preciso contar uma coisa importante: a vilã que mobilizou a ira dos telespectadores em duas das novelas de Gilberto Braga exerce sua cidadania como gente grande e se engaja também nas questões da profissão lutando com unhas e dentes por tudo que considera justo, fora e dentro de casa, sem esforço: “Não faço mais do que minha obrigação”, ela diz. E interrompe o papo para telefonar para a ex-nora, que se transformou em amiga querida – veja que coisa rara –, mas perfeitamente cabível quando se trata de Beatriz Segall. 
 
Ninguém me contou, eu mesma vi (e aplaudi silenciosamente) gestos de grande generosidade que Beatriz pretendeu ocultar de mim. Nunca falamos sobre isso e sei que ela prefere que eu me cale. Obedeço, então.
 
Quando eu era adolescente, meu pai assinava a Seleções Reader’s Digest, uma revista mensal tipicamente norte-americana, que continha a seção Meu Tipo Inesquecível. Eram pequenos relatos dos leitores que elegiam alguém que admiravam e usavam uma página da revista para expressar esse respeito ou estima, ou os dois juntos. Relendo tudo que escrevi aqui, me lembrei disso e – sem constrangimento – posso afirmar que Beatriz é um dos tipos inesquecíveis da minha vida.
 
Inclusive como atriz, porque sua atuação em “Emily”, “Três Mulheres Altas”, “O Manifesto”, “Hamlet” e “A Carta” me fez ver a necessidade de conjugarmos constantemente os verbos imprescindíveis, aqueles que começam com a sílaba re: reavaliar, repensar, rever, reconsiderar, rememorar, realçar, reajustar, reanimar, realizar, reaparecer, reatar… Espero que o mesmo aconteça com você diante dessa história que agora, além das aparências, Beatriz vai nos contar.
 
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