Nadja Naira é iluminadora, atriz e diretora
Como surgiu o seu amor pelo teatro?
Aos 5 anos fiz uma peça na escola. Aos 13, outra. Aos 15 fiz um trabalho sobre o espaço teatral e sobre a história do teatro. Aos 16 fui a um festival de peças da galera da faculdade. E, aos 17, comecei o curso superior e nunca mais tirei os pés do teatro.
Lembra da primeira peça a que assistiu? Como foi?
Na verdade, minha primeira memória de algo encenado é no circo da pequena cidade onde eu morava, Castro, no Paraná. Às vezes aparecia um por lá. Eu me lembro dos atores fazendo pequenas cenas cômicas no picadeiro. Memória antiga…
Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro. Foi…
Na verdade, foram dois, nos anos 90, em Curitiba: “As Bruxas de Salém”, com direção de Marcelo Marchioro, e “New York por Will Eisner”, com direção de Edson Bueno. Eu estava começando a fazer teatro e eram duas montagens incríveis do Teatro de Comédia do Paraná (TCP), produção do Teatro Guaíra. Impecáveis!! Elas me fizeram tomar a decisão definitiva de fazer teatro, de fazer disso minha profissão.
Você teve algum padrinho no teatro?
Sim, claro. Beto Bruel e Jorginho de Carvalho, grandes mestres da profissão teatral, grandes homens da luz. São também pensadores da cena, diretores, sem dúvida, e, além disso, se preocupam com a formação de profissionais e estimulam seus colaboradores a seguirem e crescerem na vida teatral.
Há algum espetáculo do qual você gostaria de ter participado?
“Vestido de Noiva”, direção do Ziembinski, em 1943… Queria ter operado um canhão, ligado uma lâmpada. Foi uma revolução estética e técnica na história do teatro brasileiro.
Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E estrangeiro?
Tem muita gente legal escrevendo coisa boa. Se vão continuar e encher as estantes das livrarias, e marcar seu lugar na história da dramaturga nacional, não sei. Mas o movimento da nova dramaturgia é grande, o setor anda agitado e produtivo. Daí, cito Newton Moreno, Roberto Alvim, Leonardo Moreira, que estão em qualquer lista dos dramaturgos do momento. Nós, na Companhia Brasileira de Teatro, temos trabalhado com franceses contemporâneos, como o Philippe Minyana, Jean-Luc Lagarce, Noele Renaude, Joel Pommerat, aos quais tivemos acesso graças às traduções e adaptações da Giovana Soar.
Qual companhia brasileira você mais admira?
Trabalho numa companhia sólida e com uma pesquisa instigante e isso é admirável. Existem no País dezenas de companhias assim, desde Os Clowns de Shakespeare do Rio Grande do Norte, até o Ói Nóis Aqui Traveiz, do Rio Grande do Sul. Admiro os coletivos que se propõem desafios e que resistem ao tempo e às dificuldades do trabalho diário e coletivo.
Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?
Existem, sim, peças muito ruins, e também encenadores equivocados. Quando ambos se juntam, fica bem complicado. Bons textos são frequentemente encenados de maneira equivocada. Bons diretores podem ajudar um texto/argumento fraco a se tornar interessante. Na Companhia Brasileira de Teatro, onde eu trabalho, costumamos procurar dramaturgias que possam potencializar nossas perguntas, nossas inquietações. Às vezes é preciso escrever o texto, o argumento. E, às vezes, encontramos maravilhosos textos prontos, escritos pra teatro, pro ator.
Cite um ator que surpreendeu suas expectativas.
Ranieri Gonzalez faz isso todos os dias, em cada ensaio, em cada apresentação.
A ideia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?
O lugar da arte é o lugar da democratização das ideias, sem dúvida. Na arte, tudo deve ser possível, mas não acredito que tudo seja válido.
Na era da tecnologia, qual é o futuro do teatro?
Precisamos arranjar bastante dinheiro para financiar a entrada efetiva da tecnologia nos nossos espetáculos, para não ficarmos reféns de equipamento barato, que não funciona direito. Mas, antes disso, precisamos arranjar bastante dinheiro pra pagar bons cachês e pra financiar a continuidade da pesquisa dos coletivos artísticos.
Cite um diretor (a), um autor (a) e um ator/atriz que você admira.
Meu parceiro Marcio Abreu, ator, autor, diretor, gente de teatro, artista em tempo integral.
O teatro está vivo?
Sim, sem dúvida. Cada dia mais forte e mais indispensável nesse dias de guerra silenciosa contra a brutalidade e a indiferença.